
Papo de Gestão
A controvérsia dos direitos de transmissão e a necessidade de debate
Demorei um pouco para falar da polêmica MP 984/2020, que traz uma mudança enérgica nos direitos de transmissão do futebol brasileiro, restringindo este direito ao clube mandante da partida. Ontem, dia 1º de julho, o Flamengo fez a primeira (que, vale ressaltar, não foi a primeira, já que outros clubes já haviam feito transmissões de jogos via streaming próprio) delas e bateu recorde de audiência, com mais de 2 milhões simultâneos, além de ter faturado com “doações” dos torcedores.
Primeiro de tudo, gostaria de deixar claro que a minha grande crítica foi com a forma como foi feita esta medida. É um tema interessante e que precisa ser amplamente debatido e moldado, mas que tirando a disposição sobre redução dos contratos de trabalho, de resto não tem nenhum caráter de urgência, levando em conta que estamos enfrentando a maior crise sanitária que o país enfrenta nos últimos 100 anos.
Dito isso, é inegável que esta medida terá graves consequências na economia do futebol nacional, mas ainda não se sabe ao certo se serão positivas ou negativas. O fato é que a tendência, caso não haja coletividade, é que o rico fature cada vez mais, enquanto o pequeno e o médio não vejam esse mesmo avanço.
A negociação individual já foi pauta em outras ligas e exemplo de que, sem acordos coletivos, o desequilíbrio só aumenta e há uma possibilidade imensa de fracasso.
Vale lembrar que tramita um projeto na câmara sobre o clube-empresa no Brasil e que discutir o modelo de direitos de transmissão é uma das pautas mais importantes para essa mudança, visto que hoje é o principal influenciador financeiro no futebol nacional. Os direitos televisivos representam entre 30 a 50% do faturamento dos clubes.
Por fim, é inegável que a controvérsia continue enquanto o debate não for estendido. A vitória do Flamengo sobre o Boavista trouxe perspectivas positivas sobre o uso do streaming, que é o futuro, e que clubes podem ter encontrado uma forma de diversificação de receita. Além disso, há também um passo importante para a quebra de um monopólio que parecia interminável.
Nos resta aguardar a tramitação na Câmara e no Senado e esperar por um debate amplo e medidas que beneficiem a democracia e não fortaleçam cada vez mais a desigualdade. Será, sem sombra de dúvidas, uma revolução. Esperamos que ela seja para o bem.
Foto: Divulgação/Twitter do Flamengo
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